quarta-feira, 29 de junho de 2011

Produtos autodesignados como suplementos nutricionais são ofertas abundantes na internet e as promessas são tentadoras: aumentar a imunidade, viver mais, sofrer menos, melhorar o desempenho sexual. "Todo mundo procura a pílula mágica da saúde, da beleza, da juventude. Infelizmente, ela não existe", diz Durval Ribas Filho, presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).
O maior problema, para o cardiologista César Jardim, do HCor (Hospital do Coração), é que esses suplementos se vendem como a solução de variadas condições de saúde. "Alguns podem até ajudar [a cuidar da saúde], mas uma coisa é cuidar, outra é resolver", diz Jardim. Ele acredita que, do modo como são oferecidos (e procurados), esses produtos acabam tomando o lugar do conceito mais importante, que é uma dieta equilibrada. Eis algumas das fórmulas mais procuradas:

Resveratrol
A substância, encontrada na uva e no vinho, tem sido estudada por suas propriedades antioxidantes. Na internet, há oferta de resveratrol em cápsulas de 20 mg, com a promessa de diminuir em 40% o risco cardiovascular, reduzindo colesterol total, colesterol LDL (o ruim) e triglicérides e relaxando as artérias. Além disso, o fabricante afirma que a substância ativa um gene de longevidade, o que aumentaria a expectativa de vida em nada menos do que 70%.
Segundo Myriam Spinola Najas, presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o resveratrol tem efeitos antioxidantes já demonstrados na literatura. "Sabemos que está entre as substâncias que podem melhorar a vascularização, prevenindo microinfartos e microacidentes cerebrais. Isso pode, indiretamente, aumentar a expectativa de vida. Mas ativar o gene da longevidade? Se pelo menos esse gene já tivesse sido descoberto!", diz Najas.
Além da promessa sem evidência científica de ativar o gene da longevidade, as outras propriedades do resveratrol também não são suficientes para garantir a eficácia do suplemento. "As descobertas são resultado de estudos em laboratório e com animais. Não há estudo controlado com seres humanos, por isso não há nenhuma recomendação de consumo, não sabemos que dose seria eficaz e se teria outros efeitos não desejados", afirma.
Gomas de colágeno
Trata-se de um confeito de açúcar com 2 g de colágeno hidrolisado, que promete melhorar a textura da pele, suavizar rugas, auxiliar o crescimento e o fortalecimento dos cabelos e das unhas e ajudar a emagrecer.
O colágeno é facilmente produzido pelo organismo a partir de fontes alimentares de proteína. "A não ser que a pessoa tenha uma insuficiência proteica enorme, ela não precisa de fontes suplementares de colágeno", diz o dermatologista Davi de Lacerda, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Segundo ele, o colágeno está de fato associado à sustentação da pele, mas não há base científica para afirmar que a ingestão extra do nutriente aumente a sua produção. "Com o envelhecimento, há uma diminuição da produção de colágeno pelo organismo, mas nenhum estudo mostrou que aumentar o aporte nutricional da substância aumenta o colágeno nos tecidos do corpo", diz Lacerda.
Ele também afirma que não há nada especialmente emagrecedor no colágeno hidrolisado. Os revendedores do produto dizem que a goma ajuda a emagrecer por gerar a sensação de saciedade, especialmente se for consumida com água. Para Lacerda, o colágeno hidrolisado produz certa saciedade, não maior do que as fibras alimentares, e pode "inchar" no estômago com a água, mas o efeito é pequeno e dura pouco.


Cartilagem de tubarão
Segundo sites na internet, o produto auxilia nos processos de osteoartrite, artrose e degeneração muscular e tem a proporção ideal de cálcio e fósforo para a absorção orgânica.
Há alguns anos, a cartilagem de tubarão virou febre por sua suposta ação anticancerígena. Porém, estudos controlados desmentiram esse efeito -o mais recente foi publicado no segundo semestre deste ano.
A divulgação de efeitos contra o câncer foi proibida, mas os sites continuam a divulgar propriedades benéficas para certas condições reumatológicas.
José Carlos Szajubok, presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia, diz que um trabalho da Universidade Federal do Ceará mostrou que o teor das substâncias encontradas na cartilagem do tubarão não tem eficácia terapêutica. "Além de o aporte de nutrientes não ser suficiente, a proporção não é mantida após o processo de digestão", diz o reumatologista.
Segundo a Anvisa, produtos à base de cartilagem de tubarão não podem fazer propaganda de propriedades funcionais.








fonte: FolhadeSãoPaulo

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